Embora
existam diversas acepções e até mesmo o que se pode chamar de uso abusivo do
termo estratégia, um elemento comum a todas elas é a referência ao lidar com o
futuro, portanto, o desconhecido. Assim, sendo antecipador, quer dizer,
adiantando-se aos acontecimentos, o pensamento estratégico é uma ferramenta
indispensável à governação.
A
defesa nacional, ou seja, a Segurança Nacional, no seu sentido mais lato, foi
definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como “aquela condição em que
os Estados consideram que não há perigo de um ataque militar, pressão política
nem coerção económica, pelo que podem prosseguir o seu próprio
desenvolvimento”. Desta forma, qualquer Estado em condição de segurança estará
capaz de realizar os seus Objectivos Nacionais, que definimos como sendo
aqueles em direcção aos quais se dirigem os esforços e recursos da Nação e que
encerra os valores e propósitos fundamentais que esta pretende alcançar, por
considerar essenciais para o desenvolvimento e a convivência livre e pacífica
dentro da ordem constitucional aceite. Os Objectivos Nacionais da Nação buscam
satisfazer as aspirações fundamentais de independência, soberania, integridade
territorial, progresso cultural e material, assim como o bem comum e a
preservação dos valores da sociedade.
A
governação de um Estado impõe a análise sistemática da situação interna e
internacional para identificar as potencialidades e vulnerabilidades do país,
assim como os riscos e ameaças à consecução dos Objectivos Nacionais, o que
permitirá determinar tanto oportunidades como hipóteses de conflito. Portanto,
com base num pensamento estratégico que permitirá prever o futuro de Segurança
Nacional.
A
revolução da informação e a globalização económica e cultural, que ocorrem
paralelamente ao colapso das ideologias estruturantes e ao exacerbar de
identitarismos nacionais, regionais e religiosos, provoca um aumento da
incerteza do futuro, nomeadamente no longo prazo, o qual pode engendrar nos
sujeitos da sociedade, incluindo os seus governantes, atitudes diversas, isto
é, passiva, semelhante a do avestruz; reactiva, semelhante à do bombeiro;
pró-activa, como a do agente de seguro; ou prospectivista, como a que adopta o
audaz ao buscar construir o futuro que lhe parece melhor, quer dizer, trata de
provocar as mudanças para alcançar o futuro desejado.
Prospectiva
é uma palavra que vem do latim “prospicere”, e significa ver a frente, ver
distante, em todos os lados, isto é, ter uma visão ampla. Assim, para melhor
encarar as múltiplas incertezas que pesam sobre o contexto geral e que se
reflectem no particular que abordamos, a Defesa e Segurança do Estado, propomos
o emprego do método prospectivo, o qual através da construção de cenários
globais permite focar a escolha de opções estratégicas e assegurar “a
claridade” do caminho para o futuro desejado.
A
Prospectiva, que segundo Michel Godet1 é frequentemente estratégica, senão
pelas suas consequências, ao menos pelas suas intenções, ao abordar os
problemas de grande política,
•
Estrutura-os;
•
Define os actores implicados;
•
Identifica objectivos e expectativas dos actores;
•
Determina as relações entre causas e efeitos;
•
Identifica opções e sequencia de acções;
•
Tenta prever consequências e evitar erros de análise;
•
Aborda tácticas e estratégias.
O
emprego dos métodos da Prospectiva Estratégica permite ao decisor apreciar
sobre o que deseja fazer; o que pode fazer; o que move os demais actores com
quem se relaciona; como vai evoluir a situação; que prováveis acções realizarão
os actores concorrentes isto é, com quem conflituará e com quem potencialmente
poderá estabelecer alianças; como responder às acções daqueles; quais os seus
pontos fortes e débeis; quais as ameaças, riscos e oportunidades; como lhe
afectam as mudanças nos e dos actores internos; assim como lhe afectam as
políticas futuras supra-nacionais (sub-regionais, regionais, mundiais).
A
análise acima referida procurará responder às seguintes questões fundamentais:
·
Que
pode acontecer no futuro?
·
Que
posso fazer?
·
Que
vou fazer?
·
Como
vou fazê-lo?
·
Quem
sou eu?
Para o
emprego dos métodos da Prospectiva Estratégica é muito importante, senão mesmo
determinante, a colocação das verdadeiras questões relativas ao problema em
estudo pois, como diz Michel Crozier “o problema é a formulação do problema”, o
que nos permite concordar com quem afirma que um problema bem colocado e
colectivamente partilhado com aqueles a quem diz respeito, estará já quase
resolvido.
Para
concluir, gostaríamos de frisar que não se pode ver a ferramenta da prospectiva
estratégica como receita mágica a aplicar sem considerar a situação. Aliás,
como dissemos antes, a definição de uma estratégia impõe a análise sistemática
da situação interna e internacional. Por outro lado, é preciso deixar claro que
a Prospectiva Estratégica é um instrumento útil para preparar as escolhas mas
não se deve substituir à liberdade de escolha.
G.
Veríssimo
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(1) Michel Godet é Professor Catedrático de
Prospectiva Industrial no CNAM - Conservatoire National des Arts et Métiers, de
Paris, e autor do “Manuel de Prospective Stratégique”
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